Uma boa estratégia de resolução para problemas de Lógica
Setembro 20, 2008
Paulo Afonso
Em Matemática Recreativa é usual sugerirem-se problemas que apelam ao raciocínio lógico e que implicam a utilização de uma boa estratégia de resolução, sob pena de os resolvedores sentirem algumas dificuldades em organizarem o seu processo de pensamento. O exemplo que apresento a seguir, retirado de uma obra* que tive a felicidade de publicar em 2001, transporta-nos para um cenário deste tipo:
Pedro, André, Cláudio, Dinis e Bernardo estão a ensaiar uma peça de teatro, onde os personagens são um rei, um soldado, um bobo, um guarda e um prisioneiro.
Sabe-se que:
1 - Pedro, André e o prisioneiro ainda não sabem bem os seus papéis;
2 - nos intervalos, o soldado joga às cartas com o Dinis;
3 - Pedro, André e Cláudio estão sempre a criticar o guarda;
4 - o bobo gosta de ver representar o André, o Cláudio e o Bernardo, mas detesta ver o soldado.
Qual o papel desempenhado na peça por cada um?
* - Afonso, Paulo (2001). Uma aventura matemática na Internet. Porto: ASA.
Este desafio tem a seguinte resolução: (a) O rei é o André, (b) o soldado é o Pedro, (c) o bobo é o Dinis, (d) o guarda é o Bernardo e, (e) o prisioneiro é o Cláudio.
Contudo, a utilização de uma boa estratégia de resolução permite perceber-se, durante o processo de resolução e ao fim do mesmo, o tipo de raciocínio empregue, evitando a resolução em círculos viciosos. Sugiro, pois, a utilização de uma tabela de dupla entrada, associada a uma legenda e à escrita minuciosa dos passos que forem sendo dados:
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Pedro |
André |
Cláudio |
Dinis |
Bernardo |
Rei |
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Soldado |
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Bobo |
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Guarda |
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Prisioneiro |
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Legenda: X - é; O - não é
Vamos interpretar a 1ª premissa:
Se Pedro, André e o prisioneiro ainda não sabem bem os seus papéis, então o Pedro e o André não são o prisioneiro:
O(1) O(1)
Pedro
André
Cláudio
Dinis
Bernardo
Rei
Soldado
Bobo
Guarda
Prisioneiro
Após interpretação das restantes premissas, a tabela assume a seguinte configuração:
O(4) O(4) O(2) O(4) O(4) O(4) O(4) O(3) O(3) O(3) O(1) O(1)
Pedro
André
Cláudio
Dinis
Bernardo
Rei
Soldado
Bobo
Guarda
Prisioneiro
Como acabei de registar os dados provenientes de todas as premissas, resta-me saber tirar partido desta potente tabela, pois podemos ver que o soldado já só pode ser o Pedro e o André já só pode ser o rei. Registemos, então, estas conclusões:
Pedro André Cláudio Dinis Bernardo Rei X Soldado X O(4) O(4) O(2) O(4) Bobo O(4) O(4) O(4) Guarda O(3) O(3) O(3) Prisioneiro O(1) O(1)
Se o Pedro é o soldado e o André é o rei, podemos trancar a coluna do Pedro e a linha do rei, porque cada pessoa só desempenha um papel:
O(4) O(4) O(2) O(4) O(4) O(4) O(4) O(3) O(3) O(3) O(1) O(1)
Pedro
André
Cláudio
Dinis
Bernardo
Rei
O
X
O
O
O
Soldado
X
Bobo
O
Guarda
Prisioneiro
Verifica-se, agora, que o bobo só pode ser o Dinis e o Cláudio só pode ser o prisioneiro, pelo que se deve trancar o resto da coluna do Dinis e o resto da linha do prisioneiro, ficando o Bernardo a ser o guarda:
O(4) O(4) O(2) O(4) O(4) O(4) O(4) O(3) O(3) O(3) O(1) O(1)
Pedro
André
Cláudio
Dinis
Bernardo
Rei
O
X
O
O
O
Soldado
X
Bobo
O
X
Guarda
O
X
Prisioneiro
X
O
O
Fica, pois, demonstrado o poder desta estratégia de resolução para problemas deste tipo.
Faça o teste com o seguinte problema análogo:
Quatro corredores de fundo - Artur, Bento, Carlos e Daniel - são especialistas, não necessariamente por esta ordem, da maratona, dos 1000 metros, dos 5000 metros e dos 3000 metros obstáculos.
Sabe-se que:
1 - O Artur e o especialista dos 3000 metros obstáculos correm pelo mesmo clube.
2 - Bento e o maratonista nasceram no norte.
3 - Bento passou o seu 21º aniversário na Madeira.
4 - O especialista dos 5000 metros nunca foi à Madeira.
5 - A irmã do maratonista namora o Artur.
6 - O especialista dos 3000 metros obstáculos esteve nos Jogos Olímpicos com o Bento e o Daniel.
Qual a especialidade de cada um?